Não sei quanto ainda falta, nem a sinto sair, apenas vejo que sai, e enquanto vai saindo, com a cabeça tombada na parede. No fim, abotoo as calças e saio da casa de banho, vou procurando não tombar muito e não chocar muito com os outros, olho em volta e encontro as pessoas com quem estou. Não ouço nada, a música estridente não me deixa ouvir nada, junto-me a eles e volto a dançar. Dançar: mexer o corpo consoante o dita a música, agitar a cabeça, o tronco, as pernas, os ombros ao ritmo das batidas, e quando parece que cospe num ritmo mais acentuado - aguardar pelo retomar das batidas regulares, como numa apoteose delirante. Não sei quanto bebi, sei que já saiu tudo menos o álcool que entope os ouvidos, amolece o corpo e mexe as minhas mãos e a voz, porque me vejo a fazer e a dizer o que, sóbrio, seria impossível. O sóbrio parece que, longe, trancado no ínfimo da consciência, vai assistindo ao que se passa, como se outrem tomasse agora conta do corpo e dançasse com esta realidade tudo o que gostaria de ter feito com a sua própria. Está tudo distante, é uma pena que logo hoje, que eu estou assim, esteja perto de ti; é pena que julgues que eu sou assim, porque só hoje eu sou assim. Hoje, que te conheci. Hoje, que vejo que és muito boa de carácter e lindíssima de corpo. Sóbrio, não deixaria as minhas mãos tocarem, acidentalmente, as tuas; não falaria contigo por entre os fios dos teus cabelos; sóbrio, implodiria tudo o que, em tão pouco tempo e em circunstâncias tão anómalas, sinto por ti. Mas sóbrio, tenho a certeza que te iria achar tão bonita como agora, no meio de tanta gente e de tanto ruído. Sei que vais ser sempre alguém diferente. Se te voltar a ver. Gostei muito de te descobrir, de saber que existes. Aparece mais vezes na minha vida; ou, se não tiveres de aparecer mais vezes, que te apareça na tua vida alguém que te veja o que eu gostava de te ver.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Noctúrnia
Não sei quanto ainda falta, nem a sinto sair, apenas vejo que sai, e enquanto vai saindo, com a cabeça tombada na parede. No fim, abotoo as calças e saio da casa de banho, vou procurando não tombar muito e não chocar muito com os outros, olho em volta e encontro as pessoas com quem estou. Não ouço nada, a música estridente não me deixa ouvir nada, junto-me a eles e volto a dançar. Dançar: mexer o corpo consoante o dita a música, agitar a cabeça, o tronco, as pernas, os ombros ao ritmo das batidas, e quando parece que cospe num ritmo mais acentuado - aguardar pelo retomar das batidas regulares, como numa apoteose delirante. Não sei quanto bebi, sei que já saiu tudo menos o álcool que entope os ouvidos, amolece o corpo e mexe as minhas mãos e a voz, porque me vejo a fazer e a dizer o que, sóbrio, seria impossível. O sóbrio parece que, longe, trancado no ínfimo da consciência, vai assistindo ao que se passa, como se outrem tomasse agora conta do corpo e dançasse com esta realidade tudo o que gostaria de ter feito com a sua própria. Está tudo distante, é uma pena que logo hoje, que eu estou assim, esteja perto de ti; é pena que julgues que eu sou assim, porque só hoje eu sou assim. Hoje, que te conheci. Hoje, que vejo que és muito boa de carácter e lindíssima de corpo. Sóbrio, não deixaria as minhas mãos tocarem, acidentalmente, as tuas; não falaria contigo por entre os fios dos teus cabelos; sóbrio, implodiria tudo o que, em tão pouco tempo e em circunstâncias tão anómalas, sinto por ti. Mas sóbrio, tenho a certeza que te iria achar tão bonita como agora, no meio de tanta gente e de tanto ruído. Sei que vais ser sempre alguém diferente. Se te voltar a ver. Gostei muito de te descobrir, de saber que existes. Aparece mais vezes na minha vida; ou, se não tiveres de aparecer mais vezes, que te apareça na tua vida alguém que te veja o que eu gostava de te ver.
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