O cheiro frio dos corredores de pedra
a ecoarem as vozes e os gritos que
se amontoavam ao pé das portas
O riso incomodativo das raparigas
O entusiasmo eufórico dos rapazes a exibirem-se
O sol lento, alheio na sua solidão
à solidão de quem também está só
O incómodo de termos de participar
nas aulas, nos intervalos, nos almoços
A tendência de querer estar taciturno e
quieto enquanto todos correm e jogam
E sem muito esforço os testes fáceis e os
exercícios não muito desafiantes
Mas o complexo de ser menos que os
outros nas aulas de desporto
O alheamento quando pensava em ti
nos textos pueris que queria escrever
O pasmo ao ver todos os outros,
todos sem excepção, fazerem coisas
completamente inconcebíveis, mas que
eram aceites com toda a normalidade,
o respeito pelos outros inexistente
a sinceridade nas palavras inexistente
o gosto pelo bem estar dos outros inexistente
ódios, intrigas, decepções - o futuro duma
sociedade que teimava em não se renovar
(os professores, porque faziam parte dessa
sociedade, não contrariavam a tendência)
O desejo, contudo, de estar com os outros,
viver com eles uma vida que sozinho não tinha
conhecer como eles lidavam com os problemas
mas que para eles não o eram sequer...
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