Estive contigo. Percorremos juntos as calçadas líticas das muralhas, enviesámos nas ruas íngremes, estreitas e iluminadas. Próximo de ti, tentando guardar o teu sotaque e os olhos sem o brilho da malícia. O sorriso encantador e os dentes bem dispostos. Pelas vias da velha cidade, tu a caminhar, na distância simpática da formalidade amistosa, comigo. Mais gente, mas apenas tu, e eu a ver-te. Próximo de ti, cheguei a tocar-te, a olhar-te nos olhos, a sentir a blandura do rosto meigo num cumprimento automático; abriste-me a intimidade do teu quarto, a cama onde dormes, a janela por onde o sol te renova os dias, o espelho do roupeiro que partilha contigo o que é só para ti. Na tua casa na cidade - e no entanto tu eras apenas a ideia fixa de um apartamento num prédio próximo do Instituto, na periferia nova. Tu, à procura de um carro aí estacionado, ou de alguma luz nessas janelas. Tu a falares o ódio que brota da mágoa de um amor desfeito - um sentimento que conheço tão bem... Tu, imóvel numa prisão que não te deixa continuar a viver, que te esvazia lentamente a beleza num desperdício solitário. Tu a pensares nele, a falares dele, a quereres vê-lo e estar com ele - ele, quatro anos à tua frente, numa vida sem ti. E eu atrasado onze anos.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
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