segunda-feira, 6 de agosto de 2012



Entendo que o grande numero de livros se fez, e se inventou para confusão, porque vejo que houve mayores homens, quando havia menor numero de livros. Antigamente tudo era estudo proprio, porque trabalhava o entendimento, sem mais soccorros, que a sua especulaçaõ; hoje cança o entendimento, e falta o tempo, para ver Tratados das mesmas materias. Antigamente cada hum escrevia conforme o havia imaginado; hoje accomoda-se a imaginaçaõ ao discurso alheyo. Naõ nego, nem posso negar a incrivel fecundidade, de que tem sido causa o artificio nunca bastantemente louvado da impressaõ, pois por ella se communicou a todos, o que era só para alguns, e vio o Mundo em infinitas copias, o que reservava a curiosidade como precioso thesouro; mas tambem he certo, que depois da sua rara invençaõ he mais o que se treslada, do que o que se compoem. Da-se ao velho nova forma, da-se metodo ao que o naõ tinha, que naõ he pequeno beneficio; mas a substancia he a mesma, porque a differença só consiste nos accidentes, do que pudera fazer huma nobilissima inducçaõ, se me dera tanta licença huma Censura.

D. José Barbosa, in António Cerqueira Pinto, Historia da prodigiosa imagem do Christo Crucificado (1737)

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