segunda-feira, 22 de outubro de 2012

 
 
No passeio estrelado da calçada, olhámo-nos uma última vez, e depois entrei no meu prédio. Passei tranquilo a porta, o elevador estava ocupado; mas ao subir as escadas, tropecei nos atacadores que esquecera de apertar na devida altura. Tombei, caí, magoei-me. Entretanto o elevador já estava desocupado, mas eu estava entre andares, não pude entrar; e quando depois pude estava outra vez ocupado. Sempre as escadas, agora sem problemas nos atacadores mas ainda a dor da queda - e das outras quedas, pelas pessoas que, ao virem na minha direcção, não tinham a decência de se afastarem; ou talvez quem tivesse que se afastar fosse eu... A minha casa estava perto, mas o elevador sempre ocupado não me deixava acelerar o meu percurso: e por isso, a uma dada altura, parei cansado. Não apenas a dor do corpo, mas também já alguma fadiga emocional a tentar-me com o ficar ali mesmo, num canto de escadas, a cabeça no vão, e quedar-me. Alguém nesse momento saiu do elevador no andar abaixo de onde eu estava, subiu as escadas até mim pegou-me por baixo dos ombros e quase me obrigou a andar. Voltei ao meu caminho. Pus a cabeça no vazio que a espiral das escadas fazia existir, vi que o meu andar estava a curta distância; e, impondo ao corpo um último fôlego, decidi-me a chegar lá sem paragens. Cheguei. Cansado, as mãos sem o discernimento para escolherem a chave, mas depois a conseguirem, rodei a fechadura e, sem me preocupar com a porta aberta, ou em olhar para mais nada, fui de imediato à janela do quarto, que dava para a do teu. Puxei as cortinas, corri impetuoso as portadas - mas não te vi. Colado ao vidro, rodava o olhar em todas as direcções do teu prédio, e tu não estavas lá. Nenhuma janela aberta para mim. Fiquei à espera que aparecesses, talvez algo te tivesse atrasado como aconteceu comigo, mas o atraso foi ficando cada vez maior. A decepção fez-me desistir de ficar à espera de te ver. Afastei-me da janela, as mãos pendentes como dois enforcados, e então te vi: deitada sobre a cama, desde há tanto tempo esperando que me voltasse.

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