quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ela era de uma beleza sem igual, marcada é certo por acontecimentos menos positivos da vida humana, mas ainda assim superior à de qualquer mulher que vivesse na sociedade mesquinha e preconceituosa, fingidamente progredida. Disse-me que até teria gostado de mim, se eu tivesse cuidado da minha aparência. Não: eu já tive cuidado com a minha aparência, e nessa altura as mulheres como ela não se interessavam por mim porque havia quem tivesse uma aparência melhor que a minha. A minha riqueza não está, nunca esteve na beleza transitória do corpo mortal: mas no caminho superior de que esta vida é apenas um passo. Perguntei-lhe que beleza era a dela. A do corpo? E quando o corpo já não for como é agora, com o que ela se irá identificar? De que se irá orgulhar, do passado? Ela olhou para mim num desdém de quem está acima de alguém banal como eu, e refugiou-se na cúpula da sua ilusão.

domingo, 10 de julho de 2011


"O decurso de trinta a quarenta annos, no turbilhão, cada vez mais rapido, em que hoje as idéas passam, modificando-se, transformando-se, é um periodo que corresponde a seculos nos tempos em que o progresso humano era sem comparação mais lento. As doutrinas, as apreciações criticas, os systemas, os livros quasi que envelhecem tão depressa como o homem. O pensamento que ha vinte annos parecia uma verdade nova póde hoje parecer apenas um problema não resolvido, e até um erro condemnado; a observação profunda de então ser hoje trivialidade; a critica subtil, que levou um raio de luz a certos recessos obscuros dos factos, achar-se incorporada e transfigurada em apreciação mais complexa que illumine dilatados horisontes."


Alexandre Herculano Opúsculos. Vol I (1873), pp.XIII-XIV

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Caminhando sem destino até chegarem ao destino que os espera, sempre os três: ele, acompanhado do seu filho, e o animal de estimação, o corpo.

domingo, 3 de julho de 2011

As coisas aconteceram todas. Algumas das que eu quis, algumas das que não quis, muitas das que nunca esperei. Aconteceu tudo; resta apenas que chegue a mão ossada que risque a última página e feche o livro (a última página é dela, porque a fui gastando ao longo das outras todas).
Falas comigo como se eu fosse o homem de vinte e tal anos que a barba cortada aparenta; mas dentro de mim há o ocaso de uma humanidade inteira que soçobra ante o nascimento de um novo mundo.

Achas que devo começar a gostar dela? Estavas na disposição de ser filho dela?