quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

esse filho só de sangue que te escorre pelas pernas
sou eu. podíamos ter-lhe ensinado as palavras, mas
o seu nome é agora de sangue. podíamos ter-lhe
mostrado o céu, mas o seu olhar é agora de sangue.
podíamos ter fechado a sua mão pequena dentro da
nossa, mas a sua mão é agora de sangue. esse filho
só de sangue que te escorre pelas pernas e morre
sou eu, o meu sangue e a minha memória.
José Luís Peixoto

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Morde-me com o querer-me que tens nos olhos
Despe-te em sonho ante o sonhares-me vendo-te,
Dá-te vária, dá sonhos de ti-própria aos molhos
Ao teu pensar-me querendo-te...


Desfolha sonhos teus de dando-te variamente,
Ó perversa, sobre o êxtase da atenção
Que tu em sonhos dás-me... E o teu sonho de mim é quente
No teu olhar absorto ou em abstracção...


Possue-me-te, seja eu em ti meu spasmo e um rocio
De voluptuosos eus na tua coroa de rainha...
Meu amor será o sair de mim do teu ocio
E eu nunca serei teu, ó apenas-minha?

Fernando Pessoa (22-5-1913)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Lá está a Terra com os seus contrastes destruidores; os ventos da iniquidade varrem-na de pólo a pólo, entre os brados angustiosos dos seres que se debatem na aflição e no morticínio. O que viste é o efeito das vibrações antagónicas, emitidas pela humanidade atormentada nas calamidades da guerra. Lá alimentam-se as almas com a substância amargosa das dores e sobre a sua superfície a vida é o direito do mais forte. Triste existência a dessas criaturas que se trucidam mutuamente para viver.
São comuns, ali, as chacinas, a fome, a epidemia, a viuvez, a orfandade que aqui não conhecemos... Obscuro planeta de exílio e de sombra! Entretanto, no universo, poucos lugares abrigarão tanto orgulho e tanto egoísmo! Por tal motivo é que esse mundo necessita de golpes violentos e rudes.
Cartas de uma Morta (Psicografia de Chico Xavier)

domingo, 9 de setembro de 2007

“Toda a existência terrena está calcada nos instrumentos que servem para as manifestações espirituais e, infelizmente, a vossa excessiva dedicação a esses aparelhos viciou o nosso mundo emotivo, circunscrevendo as suas possibilidades ao ambiente terrestre, onde apenas possuís pálida réstia de luz na noite de um fraco raciocínio.

Não soubestes, contudo, dentro da pequenez educacional que vos foi parcamente ministrada, descerrar o velário angusto que encobre o santuário infinito da vida, acomodando-vos entre as acanhadas concepções, que vos foram impingidas pelas ideias religiosas e que amesquinham a grandeza do Criador do Universo, na fase do orbe que vindes de abandonar. Criar um local fantástico de gozo beatífico ou de sofrimento eterno e inelutável, centralizar a vida num globo de sombra, é, somente obra da ignorância desconhecedora da omnipotência e sabedoria divinas.

É que a vida não palpita, apenas, no mundo distante, onde abandonastes as vossas derradeiras ilusões: em toda a parte ela pulula triunfante e o veículo das suas manifestações é o que se diversifica na multiplicidade dos seus planos. Os mundos são a continuidade dos outros mundos e os céus sucedem-se ininterruptamente através dos espaços ilimitados”.

Cartas de uma Morta (Psicografia de Chico Xavier)

domingo, 1 de julho de 2007

I would have no one admire a thing - a statue, a poem, a personality - because it is Greek. But I would have those who read this book love such things because they are human. For antiquity is nothing: however long ago King Minos died, while he lived he was flesh and blood; though the ashes of Perikles have been for ages no more than a handful of the world's dust, he lived once, not a name, not a shadowy figure of history, but a human being. The men and women of to-day are no more than that, and no less.
That is why to admire Greek sculpture, Greek literature, Greek art as a whole, to study them, even to love them, solely as art, is not to understand them wholly. To proclaim the Greeks the greatest artists of all time is cold gospel; they were so, they are still, not because they are so long dead, but because they were once so intensely alive. It is their eternal modernity that matters.
S. C. Kaines Smith, from the preface to Greek Art and National Life (1915 - second edition)

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Artigo da revista "Crónica Feminina", nº 377 (13-2-1964). Como há a Feira do Livro ali no Rossio, aproveitei para dar uma vista de olhos no Alfarrabista, e não resisti a comprar uns exemplares desta percursora da Maria. Toda a mulher a lia. Entre notícias do género da Lux, Caras, Hola!, etc., havia também conselhos femininos. O que se segue é de uma riqueza ímpar...
Assim se educavam as mulheres durante o Fascismo.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

As coisas que um gajo vai buscar... Velhos tempos, num ano muito especial.