segunda-feira, 23 de novembro de 2009




Tu, florista, dizes que tens de todas as flores à venda. Sempre que o disseres estarás a mentir: porque nunca estarás tu à venda. Há coisas que não têm valor, e a primeira é o teu amor: que preço dar por algo perante o qual o ouro não passa de latão? Dá-me uma rosa, imaginarei que é a tua, e os seus espinhos serão os teus nãos.



sábado, 21 de novembro de 2009

The underground


[Para ser acompanhado do Maldoror dos Mão Morta]



 Dizem que existe um lugar onde tudo é diferente, o que aqui é bom, lá é mau, e da mesma forma que aqui não há nada mau, lá também não há nada bom. É o oposto deste mundo, e lá tu não gostas de mim, lá eu sou um pobre louco amarrado a uma cama e a ser sedado pelo médico de cada vez que tu, aqui, me olhas e sorris e iluminas tudo.

Vieram dizer-me que já estava em condições de te visitar no céu que habita em ti. Valeu a pena? Vê: já sei amar sem esperar nada em troca.

E ela já sabe o que vai acontecer entre nós? Está de acordo com o que eu vou sofrer por ela? Para que tudo suceda da forma mais natural possível, a ela basta-lhe por agora saber de quem vai gostar: o resto terá as suas consequências daí. Por não ser de ti que vai gostar é que melhor podes compensar esse teu passado; mas se soubesse de antemão o que te vai provocar, a tua experiência não seria a mesma, porque ela iria evitar ao máximo que outra pessoa sofresse por ela.

O nosso mundo é uma gota no oceano Universo; para nós ele é um oceano do qual somos apenas uma gota.

És linda. Tudo em ti é harmonia, pensar em ti preenche-me o ser quase até explodir. Tenho a certeza de que, se não existisse "ela" primeiro, seria por ti que, hoje, o meu coração viveria.

Atrais-me, despertas em mim um cocktail de hormonas que não me deixa em paz enquanto não as libertar; mas não gosto de ti. Serves para eu ainda me sentir vivo, és um corpo que eu descubro com luxúria. Mas logo que chegamos onde queremos, tenho de ficar uns tempos sem te ver. Depois a gente fala.

Não, espera, pára, espera, pára com isso: não chames sentimentos despropositados. Que amor, que paixão?! É melhor não falarmos mais nada. Vamos fazer isto como se fôssemos dois animais.

Gostaste?, foi bom? Olha, vai-me buscar uma cerveja.

Não és igual a ela, nem parecida com ela, apenas os teus olhos me atraem. Desta vez, só quero usar a tua cara.

Só estou a falar contigo porque gosto do que vejo. A noite não vai acabar sem que as minhas mãos tenham passado por aí. Não és como ela, e por isso para mim não és nada.

Faz lá o que tens a fazer, mas não te ponhas à frente da televisão, quero ver o jogo (há tanto tempo que não a vejo). Nunca permitiria que a pessoa que amo descesse ao ponto de fazer o que me estás a fazer. Não pares.

Nessa noite estava a sair dum bar obscuro acompanhado por dois corpos femininos embriagados, quando num carro que passava do outro lado da rua, olhando-me fixamente nos olhos, ao fim de tanto tempo, a vi.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

(...) a antiguidade classica, a verdadeira e unica civilização para chegar á qual o mundo foi obscuro desde a sua creação, e depois da qual tornou a escurecer! Tudo antes d'isso foi pre-historico, tudo depois d'isso foi proto-historico!

Fernando Pessoa