terça-feira, 20 de dezembro de 2011



Ninguém a ouve. As pessoas passam rápidas por ela, fechadas nas suas vidas, não olham para ela mas sabem que ela está ali porque se afastam para não chocarem com ela. É como se a voz dela, elevada à rouquidão de um grito que lhe magoa o peito, fosse apenas imaginação dela, porque todos passam como se não houvesse qualquer ruído. Ela chama-os, um a um, suplica por ajuda, apela a um gesto humanitário - mas ninguém lhe atende. O que se torna da humanidade quando ninguém se sensibiliza com uma pessoa que sofre? Às vezes agarra a manga de alguém, que a enxota como a um estorvo, também se põe no caminho e procura impedir os passos de outra pessoa, que, confrontada diante dela, dá uma volta maior no passeio para a contornar. A todos pergunta pelo seu filho que desapareceu. Pergunta se o viram, se sabem onde ele está, se pelo menos ele está vivo, se já casou, como são os netinhos, mas o filho que não volta, que não a visita, se alguém a pode ajudar: e ninguém a acompanha na sua dor. Como se não soubessem o que é perder o contacto com um filho - certamente alguma dessas velhas que fecham a cara quando a vêem sabe o que ela sente. Mas não partilham com ela, ficam revoltadas, dentro dos seus cantinhos, por ela expor aquilo que elas lutam por esquecer. Mas ela não esquece. Ela não quer pensar no seu filho como sendo uma memória do passado, o seu menino querido, a luz da sua vida, a razão de ela ter nascido para todo este sofrimento. Ela tem de o encontrar, algures a vida os conduzirá um ao outro, para que ela possa dar-lhe todo o amor que não deu. Talvez um dia, mas não nesta vida: porque essa mulher não teve filhos.

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