sábado, 26 de setembro de 2009

Estes homens imorais e abjectos que me rodeiam revezam-se diariamente para me bajularem o anel do dedo, enquanto me encho de tédio no trono. Mais interessante me parece o sol, que vai, morno, embora uma vez mais. Afinal, no fim de todas as aventuras que fiz para chegar aqui, não havia o que sonhara, o que a mim mesmo, cego pela ambição, me prometera. Se o soubesse, teria sem muita hesitação abdicado de todo este ouro que não me cabe nas mãos nem na vista - quanta gente morreu para que eu agora pudesse passar enfastiado por entre estes tesouros sem vida? Como invejo, secretamente, o rapaz dos estábulos reais! Por vezes, disfarçado, sigo-o, e fico escondido num casebre ao lado do seu a observá-lo: todas as noites tem a mulher que o espera, dois meninos que lhe chamam pai - tem uma família que o ama, tem vidas que vivem para ele. Na escuridão do lugarejo em que vou vendo tudo isto, fico a imaginar-me assim... daria tudo o que tenho para ter ao menos uma companheira que me dissesse amor, ter uns olhinhos pequeninos a absorverem avidamente os ensinamentos paternos que eu lhes desse... De que me valeu ter usurpado à força o reino aos meus irmãos, ter levado o meu povo a duras guerras civis, ter dizimado as terras das nações vizinhas, se agora, afundado em riquezas e vítima do interesse de homens que não interessam a ninguém, estou só? Ah, meu rapaz! Queixas-te da miséria da vida precária que levas: mas percorre-la acompanhado, tens o apoio de pessoas que te amam. A tua vida é de miséria, mas tu não és miserável, eu... quem me dera ao menos a miséria: sempre teria qualquer coisa a sério na vida, a que chamasse minha.

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